domingo, 17 de janeiro de 2010

A Crônica da hipocrisia

Monise Busquets

O mais curioso das relações entre os seres humanos é a tal da hipocrisia, até mesmo o ser humano mais xiita em suas atitudes, aquele ser humano que nega a hipocrisia a todo custo e faz disso uma bandeira, é cooptado, através de seus interesses, a ser o mais hipócrita de todos.
Contudo, amigos leitores, não podemos esquecer algo importante, viver é a pior das hipocrisias, ao passo em que sabemos da morte eminente, ou nem tanto, de nossas vidas, então, viver um momento intensamente é esquecer da morte a espreita. Não, eu não gostaria de ser alguém um tanto pessimista, mas me é necessário nesse momento, quando fecho meus olhos e penso na corrida social, na luta por posições.
Vejo claramente que vivemos em busca de colocações, colocações nem tão justas assim, almejamos patamares de reconhecimento e fazemos disso filosofia de vida, passamos por cima de tudo, inclusive da própria ética, renegamos as emoções e não nos importamos com o sentimento do próximo.
O pior em tudo, na verdade, não são os meios e sim os fins, ao final de todas as buscas, de todas as sedes, percebe-se que se está sozinho, ou com aquele consolo frívolo, percebe-se que na verdade toda busca nos leva a situações em que temos que colocar objetivos e sentimentos em bandejas inversamente proporcionais.
Caríssimos, não há remédio que sane essa dor, curiosamente só nos apercebemos de tal moléstia quando não se há chances de recuperar o que foi, ou mesmo de tomar outro caminho. Somos imediatistas por natureza e quando a alma nos arde buscamos o que é externo para preencher essa lacuna, lacuna da própria falta de sentido para a existência.
A hipocrisia é tão sórdida, mas é algo tão necessário, o que seria da vida social sem esse embuste? Não saberia nem se quer imaginar tal situação, mas devo confessar que penso no quanto relações puras e verdadeiras se perdem em meio a essa bruma.
Fomos ensinados de que o melhor objetivo na vida é aquele ligado ao profissional, negamos os sentimentos e emoções, nossas metas são relativas às coisas materiais, às coisas do mundo.
A suspeita que tenho nessas situações é uma única, como pode o homem, em toda a plenitude de suas emoções e em toda verdade de sua humanidade, esquecer de suas próprias origens, não viver da matéria prima que criou sua alma, a sensibilidade, a verdade sobre o amor.